Graciano Rattis dos Santos Filho

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Engenheiro aposentado 55 anos casado pai de três filhos.Realizei a peregrinação em JUNHO de 2.010 em 28 dias

quinta-feira, 29 de julho de 2010

PRIMEIRO DIA PARTE IV

Retiro minha bagagem, ou melhor, minha mochila desembrulho-a, retirando o plástico de segurança, coloco as roupas que trouxe na mala de mão, retiro a manta isolante a bandeira do Brasil, releio as instruções que indicavam como sair de Pamplona na Espanha e chegar a Saint Jean Pied Port na França do outro lado dos Pirineus.

Para tomar um taxi, seguindo as recomendações colhidas pela internet previa ligar para o Sr. Telexeia ou Andoni e gastaria entre 90 e 100 Euros, mas ao sair do aeroporto na busca de uma nesga de sol ou de um ponto de ônibus me encontro com JAVIER , chofer de taxi , que me esclarece que a viagem a SJPP levaria cerca de 90 minutos e custaria pouco mais de 80 Euros.
Negócio fechado, caminho maravilhoso, de marear mais que grávida na primeira gestação de tantas curvas, mas num AUDI A4 a Diesel não tem tempo ruim.

A visão do caminho, o encontro com os primeiros peregrinos chegando a ZUBIRI, ou a
Roncesvalles dão uma idéia pouco animadora do que serão os próximos dias, mas JAVIER anima dizendo que a Rota Napoleônica – que devo seguir é mais suave e cercada de árvores e rios.
Chego a SJPP e nem desço do táxi e ao pagar os 83 Euros ao JAVIER recebo a ligação do Dudu testando o roaming internacional. Fico contente e mentalmente agradeço a Deus por tudo ter dado tão certo até agora, e particularmente pelo segundo carimbo na minha credencial dado por NORBERT, um suíço que fala um português carregado de boa vontade, que a princípio me indica e depois me acompanha todo solícito à casa 55 da Rue de La Cidadelle onde um banho quente de levantar defunto, arrumo a cama 116, ainda sem necessidade de utilizar o sleep- bag, resisto à tentação de uma soneca da tarde, ponho minhas sandálias Havaianas, presente do Lobão e da sobrinha Adriana, junto a roupa usada, o sabonete que funcionará como sabão e mãos à obra para a primeiro tanque de roupa suja

PRIMEIRO DIA PARTE III

Basta dizer que tive que pegar um trem, isso mesmo um trem, que liga os terminais T4 e T4S e depois correr descalço feito um desesperado com o chapéu Panamá e um par de botas na mão isso porque num dos postos de inspeção de passageiros tive que tirar as botas, o relógio e as moedas do bolso procurando desesperadamente no setor J a plataforma 78 e a indicação de um vôo para a cidade de Pamplona

Ao final a graça que nos dá a certeza de que Deus zela por nós e principalmente pelos peregrinos perdidos, na última plataforma, do ultimo setor, ando em bicas, com dores na sola dos pés por caminhar, caminhar não, correr pelas pistas rolantes, quando já me sentava e começava a preparar o meu espírito para procurar um agente da IBÉRIA para começar a negociar uma nova passagem para PAMPLONA , calço as botas, levanto os olhos e leio ao lado do embarque para Kopenhagem, o embarque para a cidade de PAMPLONA.

Não chorei, seria bizarro demais, mas agradeci muito à divina providência e a todas as forças do universo que conspiraram a meu favor sempre que tenho um objetivo, uma meta e me dedico a realizá-la.

Providências preliminares para o Caminho - Parte I

Antes de mais nada, uma consulta ao médico para avaliar as condições físicas, do coração e dos demais parâmetros, pressão, glicose, diabetes, colesterol, triglicérides, etc...

Tudo dentro do esperado, só o colesterol bom que estava um pouco baixo mas já era de se esperar em função do alto nivel de sedentarismo, afastado o medo de um acidente cardio vascular...

Iniciar uma caminhada depende mais da decisão de caminhar do que de dar o primeiro passo, mas depois da decisão tomada, começa o treinamento propriamente dito.

Iniciei fazendo uma hora de caminhada e planejava ir aumentando semana a semana não só o tempo mas também o ritmo de caminhar, acrescentando 1.000 metros a cada semana ao final de um mês teria aumentado mais quatro quilômetros a minha caminhada, em quatro meses estaria andando doze a quinze quilômetros por dia.

Motivação para o Caminho Parte II

A minha rotina mudou completamente.

Passei a alternar dias de jejum absoluto com horas e mais horas de desesperadas orações.

No desespero eu me aproximei novamente de Deus de quem, a plenitude dessas pequenas alegrias, me haviam afastado, sem que eu sequer me apercebesse.

Os dias se transformaram rapidamente em semanas e essas viraram meses e os meses trimestres, semestres e adquiriram o status de quase ano pois só no dia 24 de maio de 2.010 ela saiu da UTI.

Nesses 280 dias meu filho contou com o meu irrestrito apoio para tudo, independente da hora, do dia e do lugar pois, pela manhã, quando não surgia nenhum imprevisto , ou não tinha que me deslocar para outra cidade na busca de um remédio, ou de um profissional especializado, eu desenvolvia as minhas atividades profissionais,às 3 da tarde, todo dia, de segunda a segunda , dia santo e feriado, eu juntava as minhas orações, minha renovada esperança e uma enorme dose de fé e ficava entre os bancos de espera da sala de visitas para os internados na UTI e as poucas oportunidades que tinha de poder fazer qualquer coisa para dar maior conforto a Ella – que sempre escrevo com dois eles – ou para minimizar as dores e as atribuições a cargo do meu filho.

De noite, junto com as notícias sobre a evolução do estado de saúde della, renovava junto aos amigos e parentes os pedidos de REZEM POR ELLA
Um dia quando Ella saia de mais uma, das dezenas, de cirurgias, um médico anestesista aventou a possibilidade de alguém da família fizesse uma peregrinação a Santiago.

O desejo de fazer o caminho já existia.
O desejo de fazer de coração passou a existir
Do desejo para a ação,a decisão de fazer o caminho foi tomada e começo a me preparar

Primeiro dia parte III

Motivação para o Caminho Parte I

“O desejo sincero e profundo do coração é sempre realizado: em minha própria vida tenho sempre verificado a certeza disto.´´
( Mahatma Gandhi)

27 julho de 2.009 completei 54 anos e tinha o que se pode chamar de uma vida confortável em todos os seus aspectos.

Na área familiar além de uma esposa modelar uma invejável cepa de amigos.
Três filhos fantásticos, dois muito bem casados com duas noras além de bonitas muito, muito carinhosas e dedicadas, e um terceiro o mais jovem já bem encaminhado para o casamento me alimentavam a expectativa da promissora chegada dos netos que com certeza eu os curtiria na plenitude da minha saúde.
Saúde boa, só um pouco deteriorada pelo sedentarismo , mas na época, como agora , livre de todos os pequenos vícios.
Tinha, como ainda mantenho um bom plano de aposentadoria, um pequeno mas rentável comércio que me complementava essa aposentadoria vitalícia .
Lia com avidez todo livro que me caia nas mãos e minha biblioteca de livros lidos aumentava todo mês. Executava projetos de consultoria que me mantinham atualizado na área de logística.
Tinha comprado uma casa maravilhosa na praia dos meus sonhos que me permitiria reunir filhos e futuros netos, amigos, parentes e companheiros de pesca, de copo e de bar e executava a reforma de uma nova casa no condomínio onde moro que me permitiria gastos extras no futuro.
Viajava duas vezes por ano .Tirava das gavetas aqueles planos antigos e agora todos eles eram colocados em prática.
Em síntese tinha uma vida boa, pois tudo corria as mil maravilhas, e de repente, no dia 17 de agosto minha nora é encaminhada para a UTI do hospital onde havia se internado para o tratamento de uma apendicite.
Essa vida boa virou de cabeça para baixo.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Primeiro dia Parte II


Depois de correr como boi na manada recém estourada, sem pensar e sem nenhuma instrução você percebe que no aeroporto existem painéis coloridos que indicam a direção a seguir e o tempo provável que você vai consumir para chegar ao setor indicado o que não alivia em nada o seu nível de ansiedade.

Se não fez o check-in antecipadamente, desista da conexão, sente-se e tome uma taça de vinho, relaxe, procure concentrar seu pensamento em como fazer para retirar a sua bagagem e desista, desista da conexão se ela estiver prevista para ser feita nas próximas duas horas, pois esse é o tempo mínimo que você necessitará para executar todas as etapas..

Teria que ir ao setor K e na plataforma 75 isso se não tivesse ocorrido mudança de setor e de plataforma de ultima hora – elas sempre ocorrem e avisam, mas você não presta atenção isso porque a angústia de estar atraso de perder a conexão faz com que seu cérebro só consiga entender aquilo para o qual foi educado e ele ainda não foi educado para ouvir em espanhol que a sua conexão por problemas operacionais teve que mudar do setor K, da plataforma 75, para o setor J plataforma 78 – e você deve controlar a sua angústia, dar uma paradinha de frente daqueles terminais de vídeo, conferir para onde você deve se dirigir e principalmente ter certeza de onde você está.

Primeiro dia de Peregrinação



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6/05/2.010 - Aeroporto de Barajas – Madrid – Espanha
Meu amigo se você não sabe onde está você está literalmente perdido.
 Vôo atrasado, conexão para Pamplona no horário.
Aterrisso em Madrid sonolento, sono de noite mal dormida no avião, se é que se consegue dormir na classe econômica e com a perda de cinco horas de fuso horário durante a noite e durante o desembarque são dadas algumas instruções sobre as prováveis conexões internacionais e nada, nada mesmo a respeito das conexões nacionais.
Perdidão num aeroporto que tem cinco terminais de embarque e desembarque de passageiros dois com o mesmo nome T4 e T4S interligados por trem, metrô de linha regular e até ônibus.
Desembarco no T4S – S de só soube depois – pois imaginava que estava no T4.
Pra teres uma breve idéia do que é Barajas –imagine a Festa de SAN FIRMIM em PAMPLONA que inicia neste ano no dia 9 de julho e se encerra no dia 19 de julho, festa essa em que os penitentes percorrem as ruas de Pamplona perseguidos por uma manada de touros vingativos até a praça de touros da cidade, só que a cada passo dado o número de penitentes dobra, porque sempre há um avião a mais chegando , as calçadas são passarelas rolantes, as portas de fuga , são as plataformas de embarque e a pressão para chegar no horário substitui os touros lançados nas ruas e avenidas ou então  imagine uma pista de maratona onde todos os corredores  fazem parte do pelotão de elite  e estão atrasados para pegar a próxima conexão – e as instruções são dadas a cada instante por terminais de televisão que ninguém tem tempo de ver, pois todos estão atrasados, e alguns além de atrasados estão com a bexiga cheia que imaginavam aliviar ao desembarcar, com o rosto amassado  e a maquiagem por retocar  no primeiro banheiro em terra isentando-se de fazê-lo no restrito cubículo do avião.
Para aumentar um pouco mais o stress nuestros  hermanos madrileños instalaram  pistas rolantes  entremeadas onde todos correm alucinadamente como se pudessem com isso fazer com que os ponteiros do relógio andassem um pouco mais devagar.
Escadas rolantes concorrem com elevadores para levar passageiros alucinados na busca de uma placa que indique conexão para uma saída, a saída do Terminal T4S, mas alguns passageiros, nos quais eu me incluía, não havia a necessidade de sair do Terminal.
Ledo engano teria que sair passar pela alfândega carimbar meu passaporte, ingressar na Espanha e só então rumar para o T4.